Ansiedade é um salvador ou um assassino?

A ansiedade é muitas vezes uma emoção angustiante que nos debilita e deixa-nos num medo de ter medo que aconteça tudo outra vez

A ansiedade é muitas vezes uma emoção angustiante que nos debilita e deixa-nos num medo de ter medo que aconteça tudo outra vez e torna-se incapacitante conviver nesta condição. Deixamos de fazer o que fazíamos e mudamos a nossa vida toda em prol da ansiedade.

Então, quais são as vantagens trazidas pela ansiedade?

Um em cada quatro de nós experimentará ansiedade debilitante em nossa vida. As previsões são que este número aumentará drasticamente nos próximos anos. Mas vamos esclarecer: as emoções não fazem parte de nós simplesmente para serem “sentidas” ou vivenciadas, as emoções evoluíram como uma característica central da natureza humana, porque elas desempenham uma função – uma função evolutiva. Emoções individuais facilitarão o sucesso reprodutivo ou nos ajudarão a identificar e lidar com desafios específicos à aptidão reprodutiva – é por isso que, após milhares de anos de evolução humana, ainda sentimos emoções. E a ansiedade não é exceção a isso. A ansiedade é muitas vezes uma emoção angustiante e que, muitas vezes, parece mais debilitante do que propícia ou bem-vinda. 
 
Então, quais são as vantagens trazidas pela ansiedade?
 
 
Primeiro, a ansiedade está associada a acontecimentos da vida, que por vezes são inesperados e nos fazem ter tamanha reação fisiológica e emocional. Quando nos sentimos ansiosos, temos a tendência a nos protegermos perante tal acontecimento que sentimos ser ameaçador, e imediatamente como que instintivamente procuramos o objeto ameaçador (como um carro que possa vir na nossa direção e que está a nos perseguir ou alguém para nos assaltar) ou informações ameaçadoras (por exemplo, a vizinha no café que está a relatar vários assaltos na zona onde vive). Essa mudança de atenção para coisas que podem ser ameaçadoras ocorre automaticamente e pré-conscientemente se instalam antes que tu te apercebas. E assim nós somos bombardeados por vários estímulos durante o dia, seja pela TV, seja pelas notícias do rádio, seja pelas pessoas que falam no café e inevitavelmente acabamos por ouvir a conversa e inconscientemente vamos assimilar as ameaças que se processam no nosso inconsciente e lá se instalam para mais tarde nos proteger ou por outro lado, se tornarem num medo exacerbado e em crença ilusórias e desproporcionais à realidade. Todos estes estímulos podem dar origem a uma ansiedade crónica e vivermos em estado de alerta e vigilância. Muitos de nós acrescenta algo ao que ouve. Muitas palavras são distorcidas e a forma como encaramos e interpretamos os factos também vão condicionar a realidade. Posto isto, uma coisa é o que ouvimos, outra é a realidade em si, e outra é o que fazemos com o que ouvimos. Portanto, toda uma interpretação demasiado complexa para chegarmos a uma conclusão geral, até porque falamos de seres humanos pensantes e com emoções distintas e formas de sentir que só o próprio individuo poderá explicar na sua essência como e de que forma e intensidade o sente. Mas teremos outro problema nunca chegaremos a sentir a verdade sobre o sentimento do outro porque o nosso sentir não é o seu sentir.
 
Em um sentido evolutivo ou adaptativo, é de extrema importância termos a noção dos perigos do mundo em que vivemos. No entanto, há que saber destrinçar entre a informação importante da menos relevante. Ficamos alertados para possíveis ameaças que nos permitirão concentrar e lidar com elas. Mas, psicologicamente, pode ser muito emocionalmente exigente, como já referi,  este processo também fará com que  interpretemos muitas coisas como ameaças que acabam por não ser ameaças (ou seja, fazemos interpretações malignas quando, na verdade, são benignas).
 
 

Então, a ansiedade realmente funciona na prática?

Sentir-se ansioso realmente confere vantagens práticas e adaptativas?

 
 
Segundo estudos deo Psiquiatra, William Lee, que analisou a vida de 5.362 pessoas nascidas em 1946,  descobriu que aqueles que exibiam altos níveis de ansiedade (com base em avaliações de seus professores quando tinham 13 anos) eram significativamente menos propensos a morrer uma morte acidental do que aqueles com baixa ansiedade. Apenas 0,1% dos indivíduos ansiosos morreram acidentalmente, em comparação com 0,72% dos indivíduos não ansiosos. Não houve diferença entre os dois grupos quanto ao número de óbitos não acidentais.
No entanto, após os 25 anos de idade, os indivíduos ansiosos começaram a exibir taxas de mortalidade mais altas devido a mortes relacionadas à doença do que os grupos não ansiosos.
O Psiquiatra e os seus colaboradores, concluíram  que  a ansiedade ajuda as pessoas a sobreviverem a mortes acidentais potenciais até chegarem ao início da idade adulta do que o grupo de estudo não ansioso.  Mas quando se chega a jovem adulto e com capacidade de reprodução dos  genes para gerações futuras, a ansiedade pouco importa e é bem mais provável que se morra de outras doenças médicas do que no indivíduo não ansioso.
 

Num outro estudo, os psicólogos Tsachi Ein-Dor e Orgad Tal, do Centro Interdisciplinar de Herzliya, em Israel, realizaram uma série de experimentos imaginativos sobre pessoas preocupadas e indivíduos ansiosos.

Primeiro, eles descobriram que os preocupados sentem as ameaças – como detectar o cheiro do fumo – muito mais rapidamente do que os grupos não ansiosos.

Em um segundo experimento, eles descobriram que os indivíduos ansiosos distraem-se menos quando tentam lidar com uma ameaça

Neste último experimento, os participantes foram solicitados a completar uma tarefa de computador, mas o programa desenvolveu um vírus, que foi dito ao participante que ele havia ativado  (mas, na verdade, não o fez, foi ativado automaticamente como parte do experimento). Depois disseram que deveriam procurar apoio técnico com urgência. Enquanto tentavam fazer isso, eles foram apresentados a uma série de “obstáculos” adicionais, como um estudante atirar uma pilha de papéis para o chão em cima dos seus pés, e outro a pressionar para que estes completassem uma pesquisa. Os participantes ansiosos eram os menos propensos a se distrair com esses desafios, e eram mais propensos a obter o suporte técnico necessário mais rápido. Mas por um lado, se a ansiedade nos faz manter o foco para o trabalho em pressão de stress, por outro lado estudos apontam que nos faz atrair problemas do coração.

Enquanto a preocupação mantém sua consciência dos perigos futuros e ajuda-nos a pensar em possíveis soluções para lidar com o perigo, no entanto, a mesma está associada a efeitos negativos a longo prazo.

Em um estudo intitulado “Preocupar-se demais faz mal ao coração?”

Laura Kubzansky e colegas pediram a 1.759 homens livres de doenças cardíacas crónicas em 1975 para preencher um questionário com questões sobre até que ponto eles se preocupavam com cada um dos cinco domínios preocupantes – condições sociais, saúde, finanças, auto-definição e envelhecimento.

Nos 20 anos seguintes, eles registaram a incidência de doenças cardíacas. Eles encontraram uma relação significativa entre a gravidade da preocupação e o risco subsequente de desenvolver doença cardíaca crónica, e em homens idosos a preocupação previu o risco de um segundo ataque cardíaco depois de já ter sofrido um primeiro ataque.

A depressão e a negatividade também desenvolve problemas cardíacos.

Um outro estudo que investigou os efeitos psicológicos dos ataques de 11 de Setembro em Nova York descobriu que naqueles cidadãos dos EUA que exibiam stress agudo após os ataques, preocupações e medo intenso de terrorismo previam-se problemas de saúde cardiovascular até 2 e 3 anos após o ataque.

E não é apenas um risco elevado de problemas cardiovasculares associados à ansiedade. Um estudo que recentemente rastreou 15.938 britânicos com mais de 40 anos de idade descobriu que homens que tiveram um diagnóstico de perturbação de ansiedade generalizado tinham 2,15 vezes mais probabilidades de morrer de cancro do que aqueles sem o diagnóstico de ansiedade – mesmo quando fatores são prováveis de causar cancro tais como idade, consumo de álcool, tabagismo e doença crónica foram contabilizados.

Não está claro a partir do estudo qual é o elo exato entre ansiedade e cancro, mas há várias evidências da correlação entre ambos.

Há um aumento da mortalidade relacionada à saúde em idosos ansiosos, bem como, um maior risco de doenças específicas, como doenças cardiovasculares.

Parece que o primeiro estudo aqui por mim referido refere que os ansiosos são mais bem sucedidos em sobreviverem até conseguirem procriar,  o seu contributo no mundo será o seu melhor feito. A ansiedade aí já terá feito o seu papel e os seus estragos também. Visto que quem foi alvo de níveis mais elevados de ansiedade tendem a sofrer mais ataques cardíacos.

 

Conclusão, se és uma pessoa ansiosa, pesquisas ditam que a ansiedade te levaram a ser pai/ mãe, mas se não tiveres cuidados redobrados a mesma que te impulsionou a agir é a mesma que te vai dar luta mais tarde com problemas de saúde e o caminho mais rápido para a entropia.

 

Natacha Seixasrá

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