Pode morrer por causa de um coração partido
Maio 10, 2018Educar não é “palmada”
Maio 11, 2018Não há evidências de pesquisa de que a surra melhore o comportamento infantil. Pelo contrário, a surra está associada a agressividade, comportamento antissocial, problemas de saúde mental e relacionamentos negativos com os pais.
O comportamento abusivo
Creio que o comportamento abusivo de muitos pais seja um reflexo condicionado ao que cada um viveu. Segundo pesquisas, o abusado tende a se tornar um abusador. Esta tendência tendência acontece mais com os meninos que com as meninas. Embora não seja uma regra, normalmente as meninas geralmente não repetem o comportamento abusivo.
Bater nos filhos é abuso?
Se considerarmos o significado de abuso (qualquer ação humana onde exista uma pré-condição de desnível de poder), sim. Bater nos filhos é abuso infantil e/ou juvenil. O nome de tal atitude é violência doméstica. Segundo a UNICEF, ao bater na criança os pais cometem no mínimo dois tipos de violência:
- Violência Física: toda ação que causa dor física numa criança, desde um simples tapa até ao espancamento que pode ser fatal.
- Violência Psicológica: comportamentos que levam a criança a sofrimentos e lágrimas através de palavras ou atos, que a faz sentir-se desprezada, culpada, indesejada ou uma má pessoa. A violência psicológica tem a sua face “doce” que é a manipulação que faz a criança atender aos desejos do adulto através de frases como: “se não fizeres isto, eu não vou mais gostar de ti”. Disfarçado sobre o nome de “disciplina” ou “palmadinha”, o castigo físico pode magoar as crianças. Pesquisas têm revelado que o castigo físico e o comportamento agressivo afetam psicologicamente a criança.
Palmadinha- geralmente definido como acertar uma criança nas nádegas com a mão aberta – é uma forma comum de manter regras e limites como disciplina mais usada em todo o mundo. No entanto, até o momento, a surra foi proibida em 53 países.
O uso da surra tem sido muito debatido nas últimas décadas. Os defensores afirmam que é seguro, necessário e eficaz; opositores argumentam que a surra é prejudicial para as crianças e viola os direitos humanos.
Pesquisas mostram claramente que a surra está relacionada a uma maior probabilidade de muitos problemas de saúde, sociais e de desenvolvimento. Esses resultados revelam-se negativos e incluem problemas de saúde mental, como o uso de substâncias, tentativas de suicídio e condições de saúde física, juntamente com problemas de desenvolvimento, comportamentais, sociais e cognitivos. Igualmente importante é que não há estudos de pesquisa a mostrar que a surra é benéfica para as crianças.
Quando ouvimos profissionais de saúde que dizem que a surra é segura para uma criança, se feita de uma maneira específica, simplesmente expressam opiniões. E essas opiniões não são apoiadas por evidências científicas.
A evidência sobre a palmada
Já houve centenas de estudos de pesquisa de alta qualidade com uma grande variedade de amostras e projetos de estudo. Ao longo do tempo, a qualidade das pesquisas tem melhorado para incluir melhores medidas de spanking e projetos de pesquisa mais sofisticados e métodos estatísticos.
As evidências científicas desses estudos mostraram consistentemente que a surra está relacionada a resultados prejudiciais para crianças.
Isso foi melhor demonstrado em duas metanálises importantes conduzidas pela Dra. Elizabeth Gershoff. O primeiro artigo, publicado em 2002, revisou e analisou 88 estudos publicados nos 62 anos anteriores e descobriu que o castigo físico estava associado a abuso físico, delinquência e comportamento antissocial.
Uma metanálise atualizada foi publicada mais recentemente em 2016. Isso revisou e analisou 75 estudos dos 13 anos anteriores, concluindo que não havia evidência que as crianças após a surra ficassem com um melhor comportamento infantil e que a surra estivesse associada a um risco aumentado de desfechos prejudiciais. Estes incluem agressão, comportamento anti-social, problemas de saúde mental e relacionamentos negativos com os pais.
Agora temos dados que demonstram claramente que a surra não é segura nem eficaz. No passado, simplesmente não sabíamos os riscos.
Para estratégias parentais positivas
Evidências de mais de 20 anos de pesquisa indicam consistentemente os danos da surra. Há também crescente reconhecimento global dos direitos das crianças à proteção e à dignidade, conforme inscrito pela ONU sobre os Direitos da Criança, clique aqui.
É importante agora encontrar maneiras de ajudar os pais a usar estratégias positivas e não físicas com os seus filhos. Investir em programas parentais que previnam punições físicas costumam ser bem sucedidos.
Quando os pais apresentam muita dificuldade em gerir a situação devem recorrer a um profissional e podem recorrer à terapia de interação pai-filho. Intervenções domiciliárias do terapeuta também tem-se mostrado eficaz.
Porque a educação de antigamente incentiva à raiva, zanga e violência. Saiba mais.
Natacha Seixas