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Abril 9, 2020Durante os 17 anos que trabalhei com doentes de cancro e seus familiares assisti a muitos sonhos desfeitos, muitas vidas sem tempo, outras renasceram entre outras que não sabiam muito bem o que sentiam, faziam e iria acontecer na incerteza da certeza do diagnóstico.
Todos os doentes passam pelas fases da zanga, raiva negação, recusa, à aceitação e esperança ainda que não sigam por esta ordem. Muitos agarram-se à fé enquanto outro afastam-se dela por sentirem que não mereciam ser abandonados por Deus.
À medida que eu andava pelos corredores do hospital, com cheiro a éter, alternando entre silêncios dolorosos e gritos de dor eu analisava o processo do paciente seguinte antes de debater-me com mais uma realidade dura. A maioria em pré-cirurgia ou pós-cirurgia, outros para transplante.
O meu papel era desmistificar o “bicho” do cancro que é “mortifero”. Nem sempre o é! Aliás, atualmente a taxa de sobrevivência já é muito alta.
Baixar os níveis de ansiedade e encorajar a adesão aos tratamentos. Para além dos problemas associados ao passado e presente que eram trabalhados nos seus aspetos afetivo-emocionais.
Muito do trabalho passa pelo apoio à família e aos profissionais de saúde.
Quando o enfermo é uma criança a família precisa de apoio redobrado porque terá de ser os alicerces do filho. A criança vai reagir consoante a família reagir. A família ao receber um diagnóstico de cancro expressa angústia intensa e persistente que interfere na sua qualidade de vida com sentimentos de impotência e desespero. As crianças só têm a noção da realidade da doença após os efeitos secundários dos tratamentos da quimioterapia que são nocivos e podem sofrer abstinência, fazer birras, ter dificuldade em comer ou dormir ou recusar-se a seguir o tratamento recomendado.
Os próprios pais ao verem o filho a sofrerem de tal forma, procuram 2ª opinião e colocam tudo em questão. Uma onda de dúvidas do que poderá ser melhor para o seu filho se coloca e muitas vezes pensam também abandonar o tratamento e procurar outro no estrangeiro. A criança experimenta intensa angústia ou dor durante procedimentos ou outros aspectos do tratamento que interferem em sua qualidade de vida ou capacidade de acessar cuidados médicos.
O paciente se recusa a frequentar a escola devido aos efeitos da medicação e é fisicamente incapaz de ir à escola. A fadiga é demasiado grandiosa e a aparência física deixa a criança com uma auto-estima baixa procurando o isolamento interpessoal.
Há uma série de fatores condicionantes na vida da família, toda a rotina muda, a criança tem de ser novamente estimulada e consciencializada que os efeitos do tratamento são passageiros e os seus colegas também têm de estar preparados para a recepção desta mudança. É importante que a criança com cancro sinta-se integrada socialmente e útil, para que pense o menos possível nos menos bons momentos que tem passado. Tem de sentir apoio, compreensão e acreditar que é algo passageiro. Uma mente positiva contribui para o sucesso do tratamento.
Uma coisa é certa, um doente sobrevivente de cancro jamais é o mesmo porque torna-se num ser muito melhor.
Um doente de cancro, não tem medo de lutar pelos seus sonhos e dizer o que realmente pensa. As coisas materiais perdem o sentido e passam a viver numa dimensão superior da emoção e vivem mais intensamente e com mais tranquilidade.
Dedico a todos os doentes oncológicos de coração apertadinho!
By Natacha Seixas